Um Canto Nambiquara
Meus olhos se deslocaram
se fixaram no umbigo
olham pra dentro pro-fundo
pras entranhas femininas
se comunicam com a Terra
encontram amigas e irmãs
paridas por este ventre
em forma de comoção.
Neste tempo geológico
minha garganta se abre
vomita um novo sentido
de morte, de vida, prazer.
A língua fica de fora
estirada
esticada
quase toca o labirinto
lambendo o novo momento
que as mãos querem agarrar.
Agarram mesmo, esse urro
que salta roncando e grave.
O bicho de mim se aproxima
e os céus eu toco daqui.
Os movimentos são firmes
mais grosso o sangue que pulsa
mais duro de se sentir
é pleno no seu viver
se adensa, se plasma à Terra
pra daquidaí juntar-se ao pó.
Ouço flautas que amplificam
o respirar da espécie,
às vezes se mostram raivosas,
esbravejantes até,
outros sons já se elevando
da criança e da mulher.
Alguns passos são tão espalmados
que do solo não se afastam
se arrastam masculamente
deixando um rastro marcado
a arrancar do centro da Terra
a gravidade do Ser.
Já as mulheres vão leve
aos pulinhos lamentando
espalhando suas mãos
pelo Universo afora
a arrebanhar mil fluídos
do ar que preenche o Ser.
As crianças aprendizes
ensaiam passos com risos
e mostram pra todos os Deuses
seus pais
suas mães
indo daqui prali.
Performance de artes integradas, reunindo desenho digital, dança, canto, poesia, teatro, e
musica. Baseados em treinamentos chineses e expressividade indígena desenvolvemos uma
expressão coletiva de caráter ritualistico e tribal.