1986
No pasto estava eu
Não a égua, nem a vaca
Ou as duas e mais uma
formando três fêmeas no cio.
Estas três se abriam todas
para o macho arrebatado
Lua acima terra abaixo
Nada em volta era ilusão.
Muito gado em vigília
nos olhavam arredios
Nós, com medo, com tesão
Aquietamos nosso ar.
Em silêncio nos amamos
até o último estertor
quando o cheiro já bem forte
mais o rouco respirar
despertou toda a manada
que ao redor se colocou.
Nos olhamos bem quietos
Matutamos: que fazer?
Dei um “passa para lá!”
Caminhamos semi-nus.
Creio que quatro eram eles
mas nós dois os espantamos
E mais espantados ainda
nos vestimos pra voltar
(já com o medo a ‘retirar).
Sentados em volta do fogo
Retomamos nosso ar
que suspenso ainda andava
pelo louco anoitecer.
Toda a tribo adormecia
Nem um cachorro roncou
Nosso perfume bravio
Só o gado despertou.