Na Esquina
"Enquanto eu chorava na esquina
à frente calma e cinicamente
seguia o monstro frustrado.
De uma de suas mãos
corria sangue.
Sangue um,
Criatura transformada em vítima
por um simples telefonema
no orelhão da esquina.
Eu, mutilada agora,
jogo pro céu o meu rancor.
Sinto como Édipo cegado
revolta vinda do cu
ferido, marcado, sentido.
Mas o monstro segue impune
com seu falo de cachorro
esmagando outras auras
subtraindo outros membros
sensíveis, ingênuos, cândidos
expostos à vida (ao vento)
soltos à invasão.
(Que força danada
a gente tem que ter
Pior que ter força é ter que usá-la,
não contra o inimigo
mas para manter
a si e ao redor
sustados no alto
num ânimo pronto
a esquecer e a sorrir.)
Enquanto o valentão
em seu passo de mamute
marcha de peito estufado
com a boca cheia de gosma
da alegria usurpada
da menina cuja bunda
lhe atraiu como a um abutre
atrai a carniça podre,
o corpo foi transformado.
A beleza cristalina
agora é sangue pisado
coagulado pelo estupro
da mão ditadora
do grandão
sobre o meu culhão."